Revista Vertigem

O que não te disseram sobre o que você já ouviu

O que não te disseram sobre o que você já ouviu

Nós estamos vivendo num regime nazifascista?

Victoria Ferro

25/03/2025 às 12:29h

Para aqueles que se dizem isentos da política, geralmente pertencentes às classes que não possuem direitos violados – os mesmos que batem no peito estufado e dizem “eu não gosto de política” – talvez o termo ‘fascista’ venha a causar espanto ou indignação, acompanhado da pergunta: “será que isso não é exagero?”.

Será?

Antes de responder a essa pergunta com uma certeza incontestável, vamos revisitar alguns acontecimentos recentes. De norte a sul do globo, as lideranças de extrema-direita ganham força de modo pendular, especialmente em momentos de crise econômica. É uma constatação clara que, diante da frustração populacional com o fracasso de políticas de bem-estar social (ou tentativas de implementação destas), associadas diretamente a governos que se deslocam à esquerda da régua política, o apelo à culpabilizar determinados grupos sociopolíticos aparece como uma solução rápida e eficiente para uma ação coletiva. Obviamente, as forças que movimentam a política não se encontram somente na manifestação popular. Afinal de contas, de que serviria a política para o empresariado, se não para fazer valer os seus desejos? Uma das provas mais evidentes dessa dinâmica foi visualizada nos primeiros dias do ano de 2025, diante da segunda vitória de Donald Trump nos Estados Unidos. Haveria algo mais caricato do que um bilionário assumir o cargo de Presidente da República no país mais capitalista do mundo? E ainda mais do que isso, recebendo apoio dos CEO’s das big techs?

Os defensores inabaláveis da liberdade de expressão provavelmente veem estes figurões como o ápice do sucesso da ideologia neoliberal. Ideologia essa que emana uma luz capaz de cegar alguns e, ao mesmo tempo, conduzir outros. 

Agora vamos a um marco importante: o gesto nazista de Elon Musk na posse de Donald Trump. Ele é ofuscado pela luz, ou apenas um caminho mostrado por ela? Será que os eleitores de Trump realmente não conseguiram ver o gesto? Ou será que eles simplesmente concordam com o gesto e, agora, com uma figura de alto escalão a reproduzindo, eles podem finalmente assumir que concordam com o nazifascismo sem sofrer as consequências disso?

É só olharmos ao nosso redor.

Temos a eleição de Jair Bolsonaro no Brasil em 2018. A Hungria de Viktor Orban, desde 2010. A eleição de Milei na Argentina em 2023 e o imediato desmonte nos ministérios. A vitória do partido ultraconservador no parlamento Italiano. 

Para todos os lados que olhamos, vemos a ascensão de lideranças de extrema-direita, que adotam políticas sociais fascistas. Mas o que precisamos prestar atenção é no fato de que essas figuras não chegaram até o poder sozinhas. O ponto principal quando tratamos da ascensão do nazifascismo não está na figura política, apesar dela ser um dos símbolos máximos da ideologia. Está em toda a maquinaria por trás da formação do imaginário coletivo, desde os interesses empresariais que interferem na política, até o modo como nos enxergamos e enxergamos o outro. O fascismo não nasce do barro e é implementado porque alguém importante achou que assim seria melhor. Ele é construído, dia após dia, dentro das nossas casas e nas ruas, reforçado por figuras públicas e mídias e, a partir dele, pouco a pouco, vemos direitos serem violados, a violência em crescimento e o fim da diversidade.

A resposta direta e reta para a pergunta inicial é: não, nós não vivemos em um regime nazifascista. Ainda.