Mikey Madison venceu o Oscar de Melhor Atriz por Anora, mas tanto ela quanto o longa-metragem de Sean Baker representavam apenas um dos três atos do real vencedor da noite. O debate sobre “injustiças”, para os brasileiros, se dá quando falamos de Fernanda Torres, mas havia muito mais em jogo. Este era o segundo ato do real vencedor, onde Torres era coadjuvante. Não existe sentido em falar de esnobes e não falar de Demi Moore, que liderava a corrida de Melhor Atriz por A Substância. A derrota de Demi – hoje com seus 62 anos –  reflete uma realidade que cobra um alto custo em Hollywood: a invisibilidade de mulheres mais velhas nas produções cinematográficas.

Enquanto os homens parecem ter a necessidade de esperar a idade bater os quarenta, os EUA vê com bons olhos que as mulheres alcancem o estrelato o quanto antes. Um dado elaborado pelo Chicago Tribune, – intitulado The Age of Oscar Nominees – mostrou que no período de 1930 à 2013, apenas 9 mulheres acima dos cinquenta anos venceram o Oscar de Melhor Atriz, bem diferente da categoria de Melhor Ator (21 vitórias).

Basta olhar o caso da Demi Moore, que brilhou nos anos 90, o auge de sua juventude. O tempo passou, veio a virada do século e a mesma Demi badalada de outrora via dificuldade em alcançar o grande público…até se encontrar com Coralie Fargeot, e consequentemente, estrelar o longa de terror A Substância. Na história, uma apresentadora de TV de idade avançada que está em declínio recebe de um laboratório uma substância que promete aprimorá-la. O aprimoramento? Ficar mais jovem. Etarismo e objetificação do corpo feminino são centrais no roteiro do filme.

No fim, a surpresa acontece e Madison leva o prêmio, sendo ela a mais jovem entre as indicadas (25 anos), e Demi Moore segue na sombra da indústria. Eis o fim do terceiro ato, onde Hollywood não apenas reforça seu apreço pelo corpo da mulher jovem, mas também que A Substância estava mais do que certa.